Um Congresso sem história nem sumo, precisava de um fantasma para que os congressistas não saíssem dali de mãos a abanar e deprimidos sob o peso da inutilidade de ali terem estado.
A responsabilização do PCP pelos problemas de segurança que venham a existir com o Euro 2004, coelho tirado da cartola por Durão Barroso, seria ridículo se não fosse indigente e gasto.
Primeiro, não passa pela cabeça de ninguém que o PCP tenha uma influência
determinante no sindicalismo das forças de segurança. Não saber isto, é da mais cega sociologia.
(neste aspecto, Carvalhas bem pode agradecer a Durão o súbito e inesperado brinde promocional que lhe foi dado a partir de Oliveira de Azeméis)
Nas forças de segurança existem problemas antigos e que se arrastam, reivindicações não satisfeitas, promessas não cumpridas, imperícia negocial. A própria realidade do sindicalismo nas forças de segurança é recente e (parcialmente) alcançado após muitas e fortes resistências. É natural que, agora, duas borbulhas estejam cheias: o desejo dos sindicalistas em recuperarem tempo perdido, haver renitências em negociar com sindicalistas olhados de soslaio.
O facto de haver uma erupção de lutas reivindicativas com calendário apontado para o Euro 2004 era o mais previsível. Ninguém marca lutas ao lado da oportunidade de elas fazerem a máxima mossa. Seria o mesmo que esperar que os motoristas da Carris marcassem as suas greves entre as duas e as cinco da manhã para não perturbarem a vida dos utentes. As necessidades do Euro avulta o papel fundamental das forças de segurança, normal é que eles escolham este momento como ponto máximo de pressão.
Independentemente do que se possa pensar do momento de luta escolhido, os sindicalistas reivindicam e pedem negociações há muito tempo, dizendo claramente que não iam desperdiçar a melhor oportunidade de fazerem valer os seus direitos. O governo conhece as reivindicações e conhece os riscos de a luta se agudizar. Não negociou, devia negociar. Não pode é não negociar e depois chutar as culpas para outro lado. Assim, sujeita-se e sujeita-nos.
Arranjar um bode expiatório, através de um quadro fantamasgórico (o PCP a dominar e manobrar as polícias), é prova de inépcia transformada em fanfarronada. E nada original: há quanto tempo já não se ouve esta mesma música do perigo comunista. Ter ido buscar este disco gasto ao arsenal dos argumentos de impacto para dar vida a um congresso morto, lembrava a poucos. Lembrou a Durão. O homem está cansado.
Bem se sabe que a oposição do PS não incomoda uma mosca. Eles estão a ver a banda passar. Mas, até por isso, Durão bem escusava de se virar para onde se virou.