UMA AUTOCRÍTICASinto-me responsável por não ter impulsionado um debate sobre o nosso passado histórico, o franquismo e a Guerra Civil, na altura em que ele era, provavelmente, mais oportuno. Fui presidente do Governo, com maioria absoluta, na altura do quinquagésimo aniversário do começo da Guerra Civil e também de igual efeméride do fim da mesma. Duas datas bem significativas, em termos históricos. Teria até sido conveniente abrir um debate sobre o tema, nos momentos em que nós, os socialistas, estávamos em posições difíceis. Não o fiz, apesar de assistir, com mágoa, que o Vaticano continuava a beatificar dezenas, às vezes centenas, de vítimas do lado dos vencedores, exaltando-as como vítimas da cruzada, como ainda lhe chamam. Entretanto, não houve nem há exaltação, nem sequer reconhecimento, das vítimas do franquismo, por isso sinto-me responsável por uma parte da perda da nossa memória histórica e que permite agora que a direita se negue a reconhecer o horror que representou a ditadura, fazendo-o sem que por isso sofra castigo eleitoral e social, sem que os jovens se comovam, porque nem sequer sabem o que aconteceu.
Estas são palavras de humildade e autocrítica ditas por Felipe González, numa entrevista ao jornalista e escritor Juan Luís Cebrián, inseridas no livro El futuro no es lo que era.
(na foto, freiras espanholas fazem a saudação fascista, celebrando a entrada vitoriosa de Franco em Madrid)