MERCENÁRIOS E NAZI-FASCISTAS AO LADO DE FRANCOMuito relevo se deu, assim continuando, à participação das Brigadas Internacionais no combate ao lado dos republicanos na Guerra Civil de Espanha. Para uns, essa é uma prova do envolvimento de Estaline e do Komintern no conflito, justificando assim que o lado governamental era apenas rojo. Para outros, as Brigadas Internacionais são uma página épica de internacionalismo romântico, antifascista e unitário que se explora até à exaustão. Pelo lado destes últimos, não faltam as imagens, as canções, os discursos (pois, a despedida da Pasionária) e os poemas (pois, os versos de Alberti). O tema merece regresso com mais vagar e tratamento próprio.
O que muitas vezes se oculta, ou simplesmente não se diz, é a que a participação de estrangeiros (e não falo de material bélico, falo de combatentes) ao lado dos fascistas espanhóis foi anterior à chegada dos internacionais e, durante o conflito, muitíssimo superior em número de homens.
Desde logo, o pronunciamento começou com uma invasão do território espanhol por tropas estrangeiras o Exército de África, constituído sobretudo por soldados marroquinos, com Franco no comando. E ao longo da guerra, em todas os embates decisivos, as tropas marroquinas foram sempre decisivas em número e em poder de choque no combate. Ao todo, terão combatido em Espanha, 62.000 marroquinos (com 35.000 baixas, entre as quais, 8.000 mortos). Na sua maioria, os combatentes marroquinos foram recrutados nas colónias espanholas mas uma parte substancial também veio do protectorado francês. A mobilização dos marroquinos para combaterem em Espanha teve como motivação primeira os soldos recebidos e o direito a saque que lhes foi outorgado. Em termos ideológicos e de propaganda, a mobilização dos soldados marroquinos constituiu uma das raras vezes em que o Islão e o Catolicismo foram invocados para uma defesa em aliança da Fé contra o ateísmo rojo (iria repetir-se depois, no Afeganistão, para expulsar os invasores soviéticos). De uma maneira geral, sendo guerreiros destemidos, os moros notabilizaram-se porque foram decisivos na vitória de Franco, pela crueldade para com os prisioneiros, na forma como saquearam e violaram mulheres nas terras ocupadas aos republicados. Provenientes de África, embora em número reduzido, combateram ainda por Franco, soldados do Sahara Espanhol e da Guiné Espanhola.
Em maior número que o dos marroquinos, temos os italianos que contribuíram com um enorme contingente militar, organizado no célebre CTV (Corpo de Truppe Voluntarie) e numa Brigada Mixta (hispano-italiana) e que entraram em combate logo no início de 1937. Ao todo, terão combatido em Espanha, enviados por Mussolini, 73.000 italianos na infantaria (além dos que lutaram na aviação e na marinha), tendo sofrido 3.800 mortos e 12.000 feridos.
Igualmente decisiva no apoio à Espanha Fascista, foi a prestada pela Alemanha nazi. Expressa, em força de combate, na célebre Legião Condor constituída por vários milhares de alemães, actuando sobretudo na aviação, marinha, artilharia e carros de combate. Deste contingente, morreram em Espanha 300 alemães ao serviço do nazi-fascismo.
Em menor número, outros estrangeiros participaram nos combates ao lado de Franco, em que se destacam os da Legião Estrangeira, portugueses (várias centenas, talvez 800 os Viriatos), irlandeses, franceses e russos brancos.
Para além destes números impressionantes, estes combatentes estrangeiros apresentavam uma particularidade, comparativamente aos internacionais do lado republicano: italianos, marroquinos e alemães chegavam a Espanha completamente equipados com material bélico autosuficiente e de melhor qualidade e mais modernos que o usado pela tropa espanhola, em unidades treinadas e homogéneas, enquanto os internacionais eram apenas homens para combater, vindos de várias proveniências, sem espírito de corpo à chegada e com dificuldades de comunicação entre si.
Se acrescentarmos a ajuda decisiva que a Alemanha nazi e a Itália fascista, forneceram a Franco em meios militares (aviação, carros de combate, artilharia, navios de guerra e submarinos, munições, meios tecnológicos de comunicações, etc), facilmente se deduz que o corpo de combate de Franco, incorporando uma boa parte de espanhóis, foi uma guerra ganha sobretudo graças ao apoio estrangeiro.
(na imagem, capa de revista histórica dedicada à intervenção dos CTV, corpo dos fascistas italianos que combateram em Espanha)