A BATALHA DO EBROA Batalha do Ebro foi a mais trágica, mais mortífera e decisiva de todas as grandes batalhas travadas durante a Guerra Civil de Espanha. Foi lá que a guerra se decidiu.
Em meados de 1938 (a guerra iniciara-se em Julho de 1936), os fascistas espanhóis, depois de derrotarem os governamentais na frente de Aragão, ocupando Lleida, cortaram ainda a ligação da Catalunha ao Levante ao conquistarem Castellón. Como território da República, restavam a Catalunha (a leste de Lleida) e a zona Madrid-Valencia, separadas entre si. Franco já decidira que Madrid ficava para o fim (seria a cereja em cima do bolo, depois das tentativas goradas de a tomar), tratava agora de dar os golpes finais, primeiro ocupando Valência e depois o que faltava da Catalunha. Madrid cairia de podre. Para mais, tinha superioridade em homens, material, apoio internacional, vontade ofensiva.
O governo espanhol (então sediado em Barcelona, depois de já ter saltado de Madrid para Valência), conseguiu essa coisa espantosa que foi dar um golpe contra-ofensivo poderoso num projecto aventureiro de tudo-ou-nada, homérico de esforço, pleno de vigor do desespero, atacando Franco, atravessando o Ebro e combatendo os franquistas na margem direita do rio (zona montanhosa), tentando ter a iniciativa e aliviando as pressões e os avanços sobre Valência e Barcelona. Tudo foi mobilizado neste combate em que se incorporaram os jovens a partir dos dezassete anos (constituintes do chamado Batalhão do Biberão).
Usando a surpresa, os republicanos passaram o Ebro para Sul em Junho de 1938. Deram-se na margem direita os mais encarniçados combates de toda a guerra e ali se consumiram milhões de toneladas de metralha, disputando-se terreno montanhoso palmo a palmo. Os republicanos, primeiro vencedores e depois vencidos (numa luta desigual em meios e com o rio na rectaguarda) voltaram a atravessar o rio em retirada em Novembro desse ano. Na pequena faixa de terreno disputado, ficaram 100.000 mortos de ambos os bandos. E ficou a derrota sem apelo da República. Em Fevereiro seguinte, Franco ocupava a Catalunha para em Março fazer a entrada triunfal em Madrid.
Os fascistas constituiram, com prisioneiros republicanos, um Batalhão Disciplinar que recolheu todos os mortos franquistas no campo de batalha para lhes dar sepultura condigna e honra de heróis. Ainda hoje, por montes e vales da margem direita do Ebro se tropeça em ossos, caveiras e vestígios dos corpos dos republicanos ali caídos, para além do muito material bélico ainda por lá espalhado. Passados sessenta e seis anos, aqueles combatentes, muitos ceifados com dezassete anos por defenderem uma democracia, ainda não têm direito ao seu nome numa sepultura.
(na foto, uma imagem da Batalha do Ebro)