Desde o início do ataque dos Exércitos da coligação ao Iraque, defini a minha posição em dois pontos:
- Em completo desacordo com a intervenção militar na ausência de mandato das Nações Unidas.
- Não chorar uma lágrima pela sorte de Sadam e pela sua ditadura.
Tentei, ao longo do decorrer do conflito, manter esta posição nada fácil perante o extremar de posições, a histeria antiamericana que se gerou e a hipocrisia de muitos anti-guerra que tinham silenciado outras ocupações e outras guerras.
Não fui a qualquer manifestação contra a guerra. Porque, disse-o, não quis estragar o penteado com o ondular de bandeiras que não mereciam estar nelas.
Reconheço hoje que cometi, pelo menos, dois erros de falta de previsão sobre aspectos que a guerra veio evidenciar:
- O pretexto principal (existência de ADMs) era uma mentira. E que, provavelmente, Bush e os líderes seus aliados, sabiam-no.
- A forma como a ocupação se ia desenvolver, sobretudo descambar para abjectas violações dos direitos humanos.
Hoje, é para mim mais claro que nunca que o povo iraquiano, que não merecia a ditadura de Sadam, não merece que estes libertadores continuem ali com os pés postos. Porque Bush igualou-se a Sadam. E representando um país democrático, ele não tem direito a comportar-se como se comportava o ditador.
A solução volta com toda a premência para onde sempre devia ter estado: nas Nações Unidas. Não basta, seria irresponsabilidade, exigir a retirada das tropas ocupantes. O Iraque não tem condições de ficar entregue a si próprio. E o filme da história não pode andar para trás. Só as Nações Unidas (com forte empenho da parte da Europa que não se ajoelhou perante Bush, sobretudo a Espanha (a de Zapatero), a França e a Alemanha) têm autoridade e capacidade para evitar uma tragédia no Iraque de que os próprios iraquianos seriam as principais vítimas.
Os capacetes azuis devem rapidamente substituir os exércitos ocupantes, cujos governos devem (como compensação) pagar este esforço de pacificação e de regularização da vida iraquiana, com vista à sua democratização e à retoma da sua soberania. A conseguir-se isto, os iraquianos (pese embora as vítimas e os prejuízos que somaram) podem ter uma oportunidade de, finalmente, passarem da ditadura para a dignidade de um país livre e soberano.
Talvez por não ir a votos, não tenho problema algum em reconhecer os meus erros de análise e das posições que tomei. Já me enganei politicamente um ror de vezes na minha vida. Provavelmente esta não será a última. Mas prefiro que me chamem burro a que me chamem teimoso, defeito que, como se sabe, é alheio ao mundo dos burros. Fico à espera de humildade idêntica por parte dos falcões cá da praça.