Na noite passada, eu tive um sonho. Nem bom nem mau. Apenas um sonho. Um sonho que me proporcionou esse fenómeno único que é levantar-me em estado de riso escancarado. Logo eu que só começo a compor-me de humor após a segunda bica e a primeira vista sobre as gordas do jornal.
Pois, eu tive um sonho. Coisa que normalmente me passa de memória com a despedida do sono. Desta vez, o sonho perdurou e ainda me fez companhia pelo resto da manhã. Eu conto. Não tem nada de especial, mas eu conto.
Pois eu sonhei que o Bloco tinha tido maioria absoluta nas eleições e o Louçã tinha formado governo. Nada de especial. Quem anda à chuva, molha-se. Se o Bloco vai a votos, arrisca-se a ganhar. Sobretudo agora, em que se prevê aumentarem exponencialmente os votos em branco. Votos em brancos nos outros partidos, é claro. Porque aqueles que votam no Bloco (ou na Nova Democracia), esses não ficam em casa, não escrevem frases impróprias nos papelinhos e, claro está, como não têm razão de queixa do Bloco (ou da Nova Democracia), que nunca governaram, não há motivos para os castigar com o voto Omo Saramago. Nada de especial, pois.
Eu não só vi o Louçã de fato, gravata e meias finas de seda, como o vi em pleno Conselho de Ministros. Primeiro, agarrado ao telemóvel, a falar como Comando Geral da GNR a convencer o General da corporação a preparar rapidamente mais treinos de novos recrutas para reforçar a nossa presença no Iraque (diga-se que, entretanto e no sonho, os americanos tinham dado o fora e o Sadam tinha voltado aos seus mil e um palácios). Depois, vi o nosso Primeiro dar uma reprimenda ao Rosas, empossado como Ministro de História, por causa de os livros do Secundário só dedicarem um quarto das páginas à vida e à obra de Trotski, tantas como as devotadas à influência da Longa Marcha de Mao na génese da FAP e do MRPP. De melhor cara ficou o Louçã quando o Ministro do Trabalho (o Fazenda, tinha que ser) confirmou que a polícia de choque tinha metido na ordem os grevistas contra-revolucionários de uma filial de uma empresa basca que tinha em dia o pagamento dos impostos revolucionários para com a ETA. Com os outros ministros, as coisas correram mais de rotina. A Ana Drago deu conta do perfeito equilíbrio orçamental, o Miguel (Ministro do Barnabé) confirmou que o Daniel Oliveira tinha a comunicação social toda sob controlo e que almoçava - dia sim, dia não - com o José Manuel Fernandes (o mais difícil de convencer sobre a "linha justa" seguida pela Quarta) , reservando os restantes dias da semana para conversas de acerto e petiscos com o Luís Delgado, o Pacheco Pereira, o Prado Coelho, o Sousa Tavares, o Marcelo e o Vasco Pulido Valente, os quais não davam tanto trabalho a escreverem direito, perdão, esquerdo. O problema mais bicudo ficou para o fim da reunião devia-se criar ou não um Ministério dos Assuntos Gay. A maioria estava a favor, embora houvesse, entre os apoiantes do Sim, aqueles que defendiam que o Ministério se devia chamar de Combate à Homofobia, enquanto outros achavam isso muito elaborado dado o atraso cultural das massas. Acabou por ficar Ministério das Performances Desinibidas. Depois, bem, depois, não me lembro de mais nada.
Eu tive um sonho. Nem bom nem mau. Apenas cómico. Tudo por causa de ter lido, antes de me deitar, o
Jumento. Vou repetir a dose.